domingo, 17 de julho de 2016

CONJURAÇÃO BAIANA, REVOLTA DOS BÚZIOS OU SEDIÇÃO DOS MULATOS (1798)

DATA
EUROPA
AMÉRICAS
BRASIL
1776

Declaração de Independência dos EUA

1789
Queda da Bastilha

Inconfidência Mineira
1793
Abolição da escravidão nas colônias francesas
Revolução de São Domingos (Haiti)

1798


Conjuração Baiana

Na última década do século XVIII, a população da cidade de Salvador, ex-capital do Vice-Reino do Brasil, aproximava-se de 60 mil habitantes. Destes, mais de 70% era composta por pardos e negros. Porém, eram os aproximadamente 30% da população branca da cidade que ocupavam os principais cargos da administração, da Igreja e dos corpos militares. Como vimos em aulas anteriores, a cor da pele traduzia o passado de infidelidade à religião católica, definindo os limites dos indivíduos em “subir na vida” (ascensão social) na colônia e no império português.

Essa ampla parcela de pardos e pretos, livres ou escravos, também possuíam pouco acesso ao conhecimento e às notícias, uma vez que a maioria da população era iletrada. As informações circulavam pela cidade de boca-a-boca, nos boatos e fofocas difundidos nas tavernas, nas igrejas, nas praças.

Todavia, nas décadas finais do século XVIII, as novidades e as novas ideias de liberdade e igualdade chegavam a Salvador, em sua maioria pelo contrabando de livros e jornais europeus que eram censurados  pela Justiça Real portuguesa. Nas casas dos poucos homens letrados que haviam na cidade,  essas novidades eram assuntos de conversas, discutidas junto com a situação política da capitania da Bahia, da colônia e do Império Português. As novas ideias plantavam na cabeça dos homens a semente da mudança política, do fim da exploração política da Metrópole sobre sua colônia americana.

Em 1798, esta exploração dava-se principalmente através da cobrança de altos impostos, que sacrificava a vida da população local pelo aumento dos preços dos alimentos de primeira necessidade. A par disso, a desigualdade entre os homens ganhava expressão, entre os livres, no bloqueio ao acesso de negros e pardos às altas patentes dos corpos militares.

Em 12 de agosto de 1798, diversos “boletins” e “cartazes” foram pregados em igrejas, praças e outros lugares públicos de Salvador, proclamando o povo da Bahia à lutar pela sua libertação das amarras metropolitanas e pela igualdade entre pardos e brancos nos corpos militares.

A Conjuração não se transformou em revolta, e quatro mulatos pobres – dois alfaiates e dois soldados – foram presos e condenados à morte por enforcamento. Os corpos de Luiz Gonzaga das Virgens (soldado), Manoel Faustino dos Santos (soldado), João de Deus do Nascimento (mestre-alfaiate) e Lucas Dantas de Amorim Torres (soldado) foram esquartejados e espalhados por diversos pontos da cidade de Salvador para servir de exemplo àqueles que ousassem se revoltar contra as autoridades portuguesas na colônia.

Embora tivessem sofrido o mesmo destino do mártir da Inconfidência Mineira (Tiradentes), os quatro mulatos baianos não foram alçados, posteriormente, a heróis da emancipação nacional. Porque negros e pobres, o que ainda em finais do século XIX,  não simbolizavam a identidade nacional de uma República nascente pelas mãos de políticos e militares brancos que não viam um Brasil formado pelo trabalho, o sangue e os anseios de igualdade da população negra e pobre do país. Naquela época, os responsáveis pela construção da história da nacionalidade ainda viam no negro e no mulato a degeneração da “raça” brasileira. Este esquecimento ainda permanece nos livros didáticos até os dias atuais, o que ainda reflete a permanência de um país que não reconhece a fundamental contribuição histórica das populações de origem africana à formação da sociedade brasileira.

Os homens de cor supliciados pela Conjuração Baiana



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