domingo, 17 de julho de 2016

A Inconfidência ou Conjuração Mineira (1789)

Embora a maior parte da sociedade das Minas fosse formada por homens livres pobres e escravos (muitos especializados na atividade mineradora) e a cobrança de impostos os afetasse mais diretamente, a maior parte das revoltas foi promovida por membros da elite e das camadas médias. Esses homens possuíam maior poder de influência devido a suas riquezas, suas ligações políticas e o número de pessoas que mantinham sob sua dependência.

Como vimos no bimestre anterior, o Iluminismo trouxe novas ideias para o Ocidente, como as de liberdade e igualdade, que questionaram a sociedade e poder tradicionais. No final do século XVIII, a independência dos EUA (1776), a Revolução Francesa (1789) e a Revolução de São Domingos (1791) deram exemplos de transformação do poder e da sociedade como a derrubada dos reis e a abolição da escravidão.

Nas cidades mineiras de finais do século XVIII, surgiu um ambiente propício a difusão dessas ideias. Eram habitadas por homens que haviam cursado Universidades na Europa, o que os colocou em contato com as novas ideias. Estes mesmos homens reuniam-se para discutir as novas ideias e a vida política na cidade, na capitania e no Império Português. Percebiam-se responsáveis pela realidade em que viviam.

Em 1788, o rei português enviou para a capitania das Minas Gerais um novo governador com o objetivo de cobrar os impostos atrasados. Embora a queda do fluxo de ouro para os cofres reais fosse influenciado pela prática do contrabando, a produção aurífera caiu vertiginosamente a partir de meados do século XVIII. 


O GRÁFICO ACIMA DEMONSTRA A QUEDA DA PRODUÇÃO DE OURO A PARTIR DE MEADOS DO SÉCULO XVIII. 


ASSIM COMO A PRODUÇÃO AURÍFERA, A ARRECADAÇÃO DOS IMPOSTOS RÉGIOS TAMBÉM DIMINUIU BASTANTE A PARTIR DE MEADOS DO SÉCULO XVIII, RAZÃO PELA QUAL O REI DECIDIU APERTAR AS RÉDEAS DOS COLONOS MINEIROS.


Insatisfeitos com os novos rumos da capitania, um grupo da elite  de Vila Rica (hoje chamada Ouro Preto) articularam uma conspiração em resposta à cobrança desses impostos. Alimentados pelas ideias de liberdade e inspirados pelo sucesso da independência dos EUA, elaboraram um projeto de independência de Minas e a proclamação de uma República.

A suspensão da cobrança dos impostos impediu a execução do plano, porém a denúncia dos planos conspiratórios por um dos membros da elite (Joaquim Silvério dos Reis, que em troca da traição teve sua dívida com o rei perdoada) levou diversas pessoas para a cadeia. Dentre eles, dois dos principais nomes conhecidos da nossa literatura (Tomás Antônio Gonzaga e o poeta Cláudio Manoel da Costa) e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como Tiradentes.

De acordo com o dicionário do padre Raphael Bluteau de 1728, o termo "inconfidência" significava "falta de fidelidade ao seu rei". Já o termo "conjuração" descrevia  "a união de várias pessoas para a morte de um príncipe ou a ruína de um estado". Eram os termos oficiais com os quais, posteriormente, os juízes dos tribunais régios julgaram a tentativa de conspiração e que ficaram nos livros de História.


Tiradentes foi o único que teve sua sentença de morte executada, possivelmente por possuir menos influências políticas. Condenado pelo crime de inconfidência (palavra da lei que significava o crime de traição ao rei) e executado por enforcamento em 21 de abril de 1792, na esquina da rua da Forca (atual Senhor dos Passos) e a rua da Lampadosa (atual Avenida Passos), entrou posteriormente para o panteão dos heróis do Brasil. Porém, os inconfidentes mineiros não buscavam a independência do Brasil, e sim da região das Minas, estendendo-se no máximo ao Rio de Janeiro. Homens ricos da colônia, queriam o perdão dos seus impostos. Donos de escravos, as ideias da libertação dos escravos e da igualdade de direitos também passavam longe de suas cabeças. 



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