Embora
a maior parte da sociedade das Minas fosse formada por homens livres pobres e
escravos (muitos especializados na atividade mineradora) e a cobrança de
impostos os afetasse mais diretamente, a maior parte das revoltas foi promovida
por membros da elite e das camadas médias. Esses homens possuíam maior poder de
influência devido a suas riquezas, suas ligações políticas e o número de
pessoas que mantinham sob sua dependência.
Como vimos no bimestre anterior, o
Iluminismo trouxe novas ideias para o Ocidente, como as de liberdade e
igualdade, que questionaram a sociedade e poder tradicionais. No final do
século XVIII, a independência dos EUA
(1776), a Revolução Francesa (1789) e a Revolução de São Domingos (1791)
deram exemplos de transformação do poder e da sociedade como a derrubada dos
reis e a abolição da escravidão.
Nas
cidades mineiras de finais do século XVIII, surgiu um ambiente propício a
difusão dessas ideias. Eram habitadas por homens que haviam cursado
Universidades na Europa, o que os colocou em contato com as novas ideias. Estes
mesmos homens reuniam-se para discutir as novas ideias e a vida política na
cidade, na capitania e no Império Português. Percebiam-se responsáveis pela realidade em que viviam.
Em
1788, o rei português enviou para a capitania das Minas Gerais um novo
governador com o objetivo de cobrar os impostos atrasados. Embora a queda do fluxo de ouro para os cofres reais fosse influenciado pela prática do contrabando, a produção aurífera caiu vertiginosamente a partir de meados do século XVIII.
O GRÁFICO ACIMA DEMONSTRA A QUEDA DA PRODUÇÃO DE OURO A PARTIR DE MEADOS DO SÉCULO XVIII. |
ASSIM COMO A PRODUÇÃO AURÍFERA, A ARRECADAÇÃO DOS IMPOSTOS RÉGIOS TAMBÉM DIMINUIU BASTANTE A PARTIR DE MEADOS DO SÉCULO XVIII, RAZÃO PELA QUAL O REI DECIDIU APERTAR AS RÉDEAS DOS COLONOS MINEIROS. |
Insatisfeitos
com os novos rumos da capitania, um grupo da elite de Vila Rica (hoje chamada Ouro Preto)
articularam uma conspiração em resposta à cobrança desses impostos. Alimentados
pelas ideias de liberdade e inspirados pelo sucesso da independência dos EUA,
elaboraram um projeto de independência de Minas e a proclamação de uma
República.
A
suspensão da cobrança dos impostos impediu a execução do plano, porém a
denúncia dos planos conspiratórios por um dos membros da elite (Joaquim
Silvério dos Reis, que em troca da traição teve sua dívida com o rei perdoada)
levou diversas pessoas para a cadeia. Dentre eles, dois dos principais nomes
conhecidos da nossa literatura (Tomás Antônio Gonzaga e o poeta Cláudio Manoel
da Costa) e o alferes Joaquim José da Silva Xavier, mais conhecido como
Tiradentes.
De
acordo com o dicionário do padre Raphael Bluteau de 1728, o termo
"inconfidência" significava "falta de fidelidade ao seu
rei". Já o termo "conjuração" descrevia "a união de várias pessoas para a morte
de um príncipe ou a ruína de um estado". Eram os termos oficiais com os
quais, posteriormente, os juízes dos tribunais régios julgaram a tentativa de
conspiração e que ficaram nos livros de História.
Tiradentes
foi o único que teve sua sentença de morte executada, possivelmente por possuir
menos influências políticas. Condenado pelo crime de inconfidência (palavra da
lei que significava o crime de traição ao rei) e executado por enforcamento em
21 de abril de 1792, na esquina da rua da Forca (atual Senhor dos Passos) e a rua
da Lampadosa (atual Avenida Passos), entrou posteriormente para o panteão dos
heróis do Brasil. Porém, os inconfidentes mineiros não buscavam a independência
do Brasil, e sim da região das Minas, estendendo-se no máximo ao Rio de
Janeiro. Homens ricos da colônia, queriam o perdão dos seus impostos. Donos de
escravos, as ideias da libertação dos escravos e da igualdade de direitos
também passavam longe de suas cabeças.
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