DATA
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EUROPA
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AMÉRICAS
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BRASIL
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1776
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Declaração de Independência dos EUA
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1789
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Queda da Bastilha
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Inconfidência Mineira
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1793
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Abolição da escravidão nas colônias
francesas
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Revolução de São Domingos (Haiti)
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1798
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Conjuração Baiana
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Na
última década do século XVIII, a população da cidade de Salvador, ex-capital do
Vice-Reino do Brasil, aproximava-se de 60 mil habitantes. Destes, mais de 70%
era composta por pardos e negros. Porém, eram os aproximadamente 30% da
população branca da cidade que ocupavam os principais cargos da administração,
da Igreja e dos corpos militares. Como vimos em aulas anteriores, a cor da pele
traduzia o passado de infidelidade à religião católica, definindo os limites
dos indivíduos em “subir na vida” (ascensão social) na colônia e no império
português.
Essa
ampla parcela de pardos e pretos, livres ou escravos, também possuíam pouco
acesso ao conhecimento e às notícias, uma vez que a maioria da população era
iletrada. As informações circulavam pela cidade de boca-a-boca, nos boatos e
fofocas difundidos nas tavernas, nas igrejas, nas praças.
Todavia,
nas décadas finais do século XVIII, as novidades e as novas ideias de liberdade
e igualdade chegavam a Salvador, em sua maioria pelo contrabando de livros e
jornais europeus que eram censurados
pela Justiça Real portuguesa. Nas casas dos poucos homens letrados que
haviam na cidade, essas novidades eram
assuntos de conversas, discutidas junto com a situação política da capitania da
Bahia, da colônia e do Império Português. As novas ideias plantavam na cabeça
dos homens a semente da mudança política, do fim da exploração política da
Metrópole sobre sua colônia americana.
Em
1798, esta exploração dava-se principalmente através da cobrança de altos
impostos, que sacrificava a vida da população local pelo aumento dos preços dos
alimentos de primeira necessidade. A par disso, a desigualdade entre os homens
ganhava expressão, entre os livres, no bloqueio ao acesso de negros e pardos às
altas patentes dos corpos militares.
Em
12 de agosto de 1798, diversos “boletins” e “cartazes” foram pregados em igrejas,
praças e outros lugares públicos de Salvador, proclamando o povo da Bahia à
lutar pela sua libertação das amarras metropolitanas e pela igualdade entre
pardos e brancos nos corpos militares.
A
Conjuração não se transformou em revolta, e quatro mulatos pobres – dois
alfaiates e dois soldados – foram presos e condenados à morte por enforcamento.
Os corpos de Luiz Gonzaga das Virgens (soldado), Manoel Faustino dos Santos
(soldado), João de Deus do Nascimento (mestre-alfaiate) e Lucas Dantas de
Amorim Torres (soldado) foram esquartejados e espalhados por diversos pontos da
cidade de Salvador para servir de exemplo àqueles que ousassem se revoltar
contra as autoridades portuguesas na colônia.
Embora
tivessem sofrido o mesmo destino do mártir da Inconfidência Mineira
(Tiradentes), os quatro mulatos baianos não foram alçados, posteriormente, a
heróis da emancipação nacional. Porque negros e pobres, o que ainda em finais
do século XIX, não simbolizavam a
identidade nacional de uma República nascente pelas mãos de políticos e
militares brancos que não viam um Brasil formado pelo trabalho, o sangue e os
anseios de igualdade da população negra e pobre do país. Naquela época, os
responsáveis pela construção da história da nacionalidade ainda viam no negro e
no mulato a degeneração da “raça” brasileira. Este esquecimento ainda permanece
nos livros didáticos até os dias atuais, o que ainda reflete a permanência de
um país que não reconhece a fundamental contribuição histórica das populações
de origem africana à formação da sociedade brasileira.
Os homens de cor supliciados pela Conjuração Baiana |