segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Período Napoleônico (1799-1815)

       Aliado ao exército francês e setores da burguesia (donos de fábricas, indústrias e grandes comerciantes), Napoleão Bonaparte depôs um governo constitucional e se tornou o homem mais poderoso da França (primeiro cônsul). Este acontecimento ficou conhecido como “Golpe do 18 Brumário” (data do calendário da Revolução Francesa que correspondia a 9 de novembro de 1799). O período entre 1799 e 1804 ficou conhecido como Consulado, e foi marcado pelo progressivo abandono dos ideais da “liberdade, igualdade e fraternidade” consagrados na Revolução Francesa, adotando-se forte censura à imprensa e destruição de qualquer oposição ao poder dos cônsules.       

          A solução de força adotada durante o Consulado diminuiu os conflitos políticos e sociais existentes na França da época. O governo, embora fosse regido por uma Constituição (que devia colocar limites a autoridade política), concentrava cada vez mais poder. Em 1804, após plebiscito, Napoleão conseguiu ser aclamado Imperador da França.

         Em sua coroação, no dia 2 de dezembro de 1804, retirou a coroa do Papa e colocou em si, deixando claro que não reconhecia nenhuma autoridade acima dele.



      O expansionismo francês e guerra contra a Inglaterra e as potências restauradoras.

                  a.      O bloqueio continental francês (1806): Após invadir e impor seu domínio a diversos territórios da Europa, a França napoleônica, com o exército mais poderoso do continente,  impede o comércio dos navios provenientes dos portos ingleses e das mercadorias provenientes da Inglaterra nas regiões sob seu domínio.

                  b.      O bloqueio marítimo inglês (1807): Maior marinha da Europa, a Inglaterra bloqueia e captura todos os navios que tinham como destino os portos franceses.

                  c.      A invasão de Portugal e a fuga da família real portuguesa para o Brasil: as tropas napoleônicas invadem o reino português e o rei, com sua Corte e família, vêm para sua colônia americana com o apoio militar-naval da Inglaterra. 

A Cronologia da Revolução Francesa


1.      A Monarquia Constitucional (1791): A Assembléia Constituinte aprova uma Constituição limitando os poderes do rei e dando apenas a Assembléia Nacional o poder de fazer leis. É estabelecido também o voto censitário, ou seja, somente os cidadãos que tivessem uma certa renda podiam votar. Camponeses, operários, artesão e mulheres, 85% da população, é excluída do direito ao voto. O rei se alia a parte da nobreza e ao clero e busca apoio de outras monarquias para combater a Assembléia Nacional, porém ele e sua família são presos ao tentar fugir da França. O povo se junta aos soldados franceses combater os estrangeiros e vencem em setembro de 1792 (Batalha de Valmy).

2.      A Convenção Nacional (1792):  Após a vitória contra a Monarquia, uma Convenção é eleita pelo voto nacional masculino para elaborar uma nova Constituição. Os membros eleitos acabam por se dividir em três grupos políticos: os Girondinos, representados pela burguesia industrial e comercial, é contrário ao voto universal e defende principalmente a propriedade privada; os Jacobinos defendem um governo forte, o voto universal e a participação popular; a Planície defende seus próprios interesses, aliando-se ora a Jacobinos, ora a Girondinos. Os jacobinos ascendem ao poder, condenando o rei à execução pública na guilhotina em janeiro de 1793.

3.      Período Jacobino ou Período do Terror (agosto de 1792 – julho de 1794): Num período de ameaças externas (monarquias absolutistas) e internas (conspirações), os Jacobinos fundaram um governo revolucionário, popular e autoritário. Distribuiu as terras entre os camponeses franceses, aboliu a escravidão nas colônias francesas, criou o ensino primário e gratuito e tabelou os alimentos mais necessários a população. Porém, a perseguição aos inimigos políticos foi tão intensa que o governo revolucionário acabou executando jacobinos contrários a extrema violência. Aproveitando-se dos desentendimentos dentro do governo, os Girondinos conseguiram o apoio da Planície e derrubaram o Governo Revolucionário, condenando seu principal líder (Robespierre) à execução pública.

4. O Diretório (1794-1799): Governo liderado pelos Girondinos, aprovaram uma nova Constituição em 1795 com voto censitário (só os ricos podiam votar) e confiando o governo a um Diretório composto por 5 deputados. Enfrentaram conspirações promovidas pela aliança entre os nobres e Monarquias estrangeiras e de jacobinos. Após seguidas denúncias de corrupção contra o Diretório, Napoleão Bonaparte, um jovem general com excelente reputação, aliou-se a burgueses e militares e tomou o poder no golpe conhecido como 18 Brumário (Brumário significava o décimo oitavo dia dos mês das brumas, de acordo com o calendário instituído pela Revolução Francesa em 1792, que passou a ser o ano I da República Francesa e IV da liberdade.

           


Estado Nacional e Nacionalismos no século XIX

a)      Estado Nacional: O século XIX foi, na Europa, o século da afirmação dos Estados Nacionais. Diferentes dos reinos e dos estados dinásticos dos séculos anteriores, os Estados Nacionais se afirmaram a partir da ideia, surgida na Revolução Francesa, de que existe uma cultura, tradições e uma história comum entre as pessoas que vivem nas fronteiras deste Estado. Estas comunidades imaginadas foram criadas no século XIX a partir da difusão de símbolos nacionais, de um ensino público universalizado que impôs um mesmo idioma e uma história que buscou construir valores únicos de identificação e fidelidade à pátria.


b)      Nacionalismos: Durante o século XIX, o acelerado desenvolvimento econômico e tecnológico dos Estados nacionais provocado pela Segunda Revolução Industrial serviu para aliar os interesses dos burgueses industriais e financeiros e dos governantes em busca de áreas para investir o capital e dar continuidade ao crescimento econômico.  A competição capitalista por mercados consumidores, fontes de matérias-primas e áreas de investimento alimentou, nos Estados-nacionais, a produção de discursos e ideias que buscavam relacionar os interesses capitalistas das burguesias nacionais a exaltação da nacionalidade e da pátria. Os nacionalismos acabaram por alimentar rivalidades, desencadeadas por diversos conflitos bélicos no século XIX.

terça-feira, 24 de maio de 2016

As ciências e a hierarquização da humanidade no século XIX

“Segundo o historiador inglês Eric J. Hobsbawn, o racismo tinha um papel central em uma ciência social que se desenvolvia rapidamente, a antropologia, fusão de duas disciplinas sensivelmente diferentes, a “antropologia física” (basicamente derivada de interesses anatômicos e similares) e a “etnografia”, ou a descrição de várias comunidades geralmente “atrasadas” ou “primitivas”. Ambas desviaram sua atenção para o problema da diferença entre os diversos grupos humanos e (calcadas no modelo evolucionista) o problema da descendência do homem, assim como os diferentes tipos de sociedade, “dos quais o mundo burguês parecia sem dúvida o mais elevado”. Para os antropólogos do período, a evolução biológica darwniana sugeria uma hierarquia das raças, o que sua disciplina procurava comprovar através de minuciosas medições cranianas (frenologia) e através do método comparativo entre as culturas (antropologia cultural), onde o nome de E. B. Tyler (1832-1917) ganhou destaque. Tyler e outros observavam comunidades e culturas que os levavam a concluir que elas não eram diferentes por natureza, mas representativas de um estágio anterior da evolução no caminho da civilização moderna. Deste modo, termos privilegiados no período, como “civilização e“progresso”, eram entendidos não enquanto conceitos específicos de uma determinada sociedade, mas como modelos universais. Acreditava-se que o conjunto da humanidade passaria pelos mesmos estágios do progresso evolutivo.

O Darwinismo Social, juntamente com a antropologia e a etnografia do século XIX ajudaram a construir a idéia de “missão civilizatória” das potências imperiais. Deste modo, o chamado neo-imperialismo das últimas décadas do século XIX trazia consigo a noção de que havia um “fardo do homem branco” de levar o progresso e a civilização aos povos “primitivos” e “atrasados”.

Os teóricos racistas dos oitocentos também estavam preocupados com o problema da mistura racial. O mestiço era o exemplo da “degeneração”surgida com o cruzamento de “espécies diversas”. Baseado no fortalecimento da tese poligenista, as raças humanas deveriam ver na hibridação um fenômeno a ser evitado. O principal nome nesse sentido foi o do conde de Gobineau (1816-1882), autor do “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”, publicado em 1854 e de enorme repercussão européia. Este acreditava que a desigualdade das raças humanas não era uma questão absoluta, mas um fenômeno ligado à miscigenação.

Essas idéias baseadas na pureza racial inspiraram o surgimento da eugenia, doutrina fundada pro Francis Galton (1822-1911) e que teve ampla aceitação principalmente na Alemanha. A “ciência eugênica” tinha como pressuposto a idéia de que os caracteres mentais e, sobretudo, a inteligência eram hereditários ao mesmo título que os caracteres físicos. Deste modo, pretendia-se realizar a“higiene racial” através da intervenção na reprodução das populações, com a proibição de casamentos inter-raciais e a incidência de severas restrições sobre alcoólatras, epilépticos e alienados.

A popularidade destas teorias raciais na Europa do século XIX pode ser percebida pelo sucesso dos “zoológicos humanos”, ou seja, das exposições de tipos humanos exóticos. De acordo com Magnolli, um mercado consumidor amplo para a exibição de “raças inferiores” configurou-se a partir da década de 1870, quando cidades como Londres, Paris, Nova York, Amsterdã, Antuérpia, Hamburgo, Milão e Barcelona começaram a receber exposições que atraíam duas a três centenas de milhares de visitantes e ofereciam atrações como pigmeus africanos e neozelandeses, negros da Núbia, apaches, esquimós e nativos de Samoa ou do Suriname.” 

(Texto extraído de Flávio Raimundo Giarola, Racismo e teorias raciais no século XIX: Principais noções e balanço historiográfico, disponível em http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=313#_ftn1.)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

O perigo da história única

O vídeo do link abaixo é uma palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie. Trata-se de uma africana que fala da imagem falsa que o mundo tem da África devido à influència das estórias que os europeus contaram sobre a África, desde o século XIX

Reflitam como a visão estereotipada que os outros fazem de nós acaba nos fazendo ter uma visão distorcida de nós próprios. 

https://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc

A diplomacia de Bismarck e a Paz Armada.

a)      A  intenção do chanceler alemão de evitar confrontos com a Inglaterra e a França e aliando-se a países da Europa central, como o Império Austro-Húngaro e a Itália. (Tríplice Aliança) Por outro lado, França, Inglaterra e Rússia firmam alianças diplomáticas (Tríplice Entente). Eram os dois blocos que entrariam em conflito na Grande Guerra.

b)      A Conferência de Berlim (1885): a partilha dos domínios coloniais da África e da Ásia e a renúncia da Alemanha à maiores ambições coloniais.

A colonização da África e da Ásia em finais do século XIX




c)      A Paz Armada: Apesar das relações diplomáticas encontraram-se numa situação pacífica, os governos de Inglaterra, França e Alemanha passam a investir intensamente na indústria de armas. 

As rivalidades e as ideologias nacionalistas na Europa antes da Primeira Grande Guerra

As rivalidades europeias

a)      Alemanha e França: os franceses perderam para os alemães as regiões da Alsácia-Lorena, ricas em carvão, durante a guerra franco-prussiana (1870-1871).
b)      Império Russo e Império Otomano: ressentimento russo pela derrota sofrida na guerra da Criméia (1856).

Nacionalidades e nacionalismos:

a)      Os Nacionalismos das potências capitalistas, sobretudo Inglaterra, França e Alemanha, marcados pela busca da hegemonia política na Europa e pela conquista ou defesa de impérios coloniais.
b)      Os Nacionalismos dos impérios tradicionais, como o dos Impérios Russo ou Turco-Otomano, voltados para a expansão territorial das respectivas regiões;
c)      Os Nacionalismos separatistas, como o das minorias do império Austro-Húngaro, cuja radicalização, no caso sérvio, foi o estopim da Grande Guerra iniciada em 1914.

Ideologias imperiais

a)      Pan-eslavismo russo: defendia a união dos povos eslavos no mesmo Estado, defendido pela Rússia. As nacionalidades eslavas, em conflitos contra o Império Áustro-Húngaro e o Império Turco-Otomano, coloca a Rússia em alinhamento automático com estes povos.
b)      Pan-eslavismo sérvio: ideologia que ressaltava a missão de agrupar os eslavos do sul da Europa, a exemplo dos eslovacos, croatas, búlgaros, entre outros.
c)      Pan-germanismo: ideologia que defendia a anexação dos povos germânicos espalhados pela Europa Central, como holandeses, dinarmaqueses, austríacos, entre outros, pela Alemanha. 
Mapa da Europa antes da Primeira Guerra Mundial



Primeira Guerra Mundial ou Primeira Grande Guerra (1914-1918)

1)      Definição: A Primeira Guerra Mundial ou Primeira Grande Guerra foi um conflito armado iniciado na Europa devido à intensificação das disputas imperialistas entre as grandes potências europeias do período. Sua abrangência mundial deveu-se a ação expansionista dos países europeus pela África e Ásia, pelas pretensões imperialistas do Japão no Extremo-Oriente e o rápido desenvolvimento econômico e tecnológico dos EUA.

2)      O mundo antes da Primeira Guerra Mundial
a)      O imperialismo ou neocolonialismo: Entre os séculos XVI e XVIII, a conquista e expansão dos países europeus sobre os territórios em outros continentes possuía como objetivos principais a acumulação de metais preciosos, seja a partir da descoberta e extração de ouro e prata; seja através da venda de produtos manufaturados por preços altos e a compra de produtos agrícolas (como o açúcar) por preços baixos.
 Diferente do colonialismo, o neocolonialismo tinha por objetivos a busca de matérias-primas para as indústrias (ferro, carvão, cobre), mercados consumidores para seus produtos,  áreas onde fosse possível instalar ferrovias e conceder empréstimos a juros altos. O imperialismo foi fruto do desenvolvimento desenfreado da industrialização e do capitalismo europeu durante o século XIX, representado por grandes empresas e bancos que, aliados aos governantes, buscaram justificar a conquista de territórios junto aos povos a partir do discurso de exaltação da nação e da pátria.
Os países pioneiros na expansão imperialista do século XIX foram Inglaterra,  França,  Bélgica e Holanda. Após se unificarem politicamente, a Alemanha e a Itália entraram na corrida imperialista.
Para ter uma ideia da rapidez do processo imperialista, por volta de 1800, antes da expansão, os países que eram considerados grandes potências controlavam 35% da superfície terrestre, em 1878 esse índice já alcançava 67% e nas vésperas da Primeira Guerra Mundial era de impressionantes 84%.


b)     As justificativas ideológicas do imperialismo
Para dominar e subjugar imensas regiões e milhares de pessoas era necessário algumas justificativas. Elas existiam e eram apoiadas por amplos setores da sociedade dos países imperialistas que se sentiam superiores às populações dominadas. Entre as falácias que justificavam essa dominação pode-se citar:
·         A necessidade de levar o progresso e a civilização para as nações atrasadas. Segundo essa lógica, os povos dominados eram considerados atrasados e incivilizados e cabia às nações europeias a missão de civilizar essas regiões .
·         A percepção de que a obtenção de colônias era um fator que garantia status e prestígio frente às outras potências europeias, ou seja, para ser uma grande potência era necessário exibir as suas colônias como troféus.
·         O etnocentrismo, que se baseava na ideia de que alguns povos eram superiores a outros. Neste caso os europeus eram superiores a asiáticos, indígenas e africanos.
·         Darwinismo social. Baseado na teoria da evolução de Darwin, que se propagou com o livro “A evolução das espécies” de 1859. Alguns pensadores se apropriaram das ideias de Darwin, e passaram a aplicar a teoria da seleção natural às sociedades humanas. Segundo a teoria dos darwinistas sociais, algumas raças eram biologicamente superiores a outras.  Obviamente, os brancos, em especial europeus, eram considerados  mais evoluídos e, portanto progrediam mais rapidamente que os negros e asiáticos. Sua superioridade biológica justificava seu direito   de,  quando em contato com os “selvagens”, subjugá-los. Ou seja, por serem menos evoluídos, a própria regra de seleção natural estaria condenando essas raças a sua inevitável extinção.